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Brasileiros revelam ataques xenofóbicos em Dublin

Não é de hoje que imigrantes sofrem com a xenofobia em qualquer país do mundo. Na Irlanda o problema também existe e é frequente. Em Dublin, a situação parece ser mais constante do que outras cidades da ilha. Brasileiros que vivem na capital frequentemente relatam cenas de violência física e verbal apenas por serem estrangeiros (leia abaixo).

Recentemente, os jornais irlandeses noticiaram um ataque de jovens a uma asiática, com um vídeo que viralizou na irlanda. Ela foi empurrada e caiu dentro de um canal na capital irlandesa após receber ameaças e xingamentos.

Em uma pesquisa feita pelo iReport.ie sobre o ano de 2019 mostrou que houve 530 denúncias de crimes contra imigrantes, além de outras 112 por incitação ao ódio. Crimes de racismo totalizaram 130 denúncias.

O relatório ainda mostrou que 2019 foi o ano recorde de ataques racistas na Irlanda, 50, além de um aumento nas taxas de lesões físicas e mentais, consequências para a saúde em ambos os crimes e casos de discriminação. Também houve uma baixa taxa de confiança da população na Garda, a polícia irlandesa, com consequente baixa taxa de denúncias.

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Houve ainda notificações de discriminação racial em serviços do setor público e aumento da publicação de discurso de ódio por candidatos políticos na mídia, com crescimento no número de sites de extrema direita.

Leia também: Existe preconceito contra o estrangeiro na Irlanda?

Brasileiros relatam casos de abuso

A brasileira Mayara Amorim Fernandes cansou de ouvir falar de histórias de amigos ou conhecidos que relatavam casos de violência em Dublin e criou o Singular Project, um perfil no instagram que busca denunciar ataques, falar sobre xenofobia e racismo na Irlanda, além de mostrar caminhos para denúncias de crimes e abusos.

Mayara procurou o E-Dublin para ajudar a contar algumas destas histórias de racismo e xenofobia que você pode ler abaixo:

Violência xenofóbica e homofóbica

Uma vítima brasileira da violência por conta da xenofobia preferiu não se identificar, mas enviou o seu relato. Ela disse que, além do ataque ser puramente xenofóbico, foi também homofóbico, pois aconteceu quando ela e a namorada voltavam para casa pelas ruas de Dublin.

“Estávamos andando na rua quando avistamos 15 crianças e adolescentes e não tinha como mudar o caminho, pois moramos praticamente no final da rua de onde eles estavam. Quando passamos por eles, imediatamente eles começaram a jogar coisas na gente, como balão com água, bombinha, pedaços de plásticos e sabe-se lá o que mais”, relatou.

Segundo ela, até mesmo o cão que estavam levando foi atingido. “Quando literalmente do nada eu levo dois socos diretos na cara, minha namorada na tentativa de me defender e ajudar acabou caindo e levando outro soco no olho.”

“É muito difícil ter o mesmo amor por Dublin depois que uma coisa dessas acontece com você”

Ela disse ter experenciado uma sensação horrível. “Imagine duas pessoas sendo acuadas por 15 crianças zombando na sua cara enquanto eu e minha namorada ensangüentadas e ninguém, absolutamente ninguém na rua teve a coragem de se aproximar para ajudar ou pra ver o que estava acontecendo”, disse, ressaltando que as crianças e adolescentes podem ser violentas pois sabem que são intocáveis.

“A Garda fazendo vista grossa pra isso é o mais revoltante.”

Leia também: Existe racismo no mercado de trabalho da Irlanda?

Ataque gratuito contra amigas brasileiras

A brasileira Melissa Roa também enviou seu relato. Ela afirmou ter sido atacada em 22 de julho de 2020, por volta da meia-noite, próximo da Cork St, em Dublin 8, com uma amiga. Elas não se viam há mais de um ano e resolveram se encontrar.

Melissa decidiu acompanhar a amiga até em casa. “Não sei porque, mas não quis deixá-la subir a Cork St sozinha àquela hora e disse a ela que a acompanharia. Pois bem, agradeço muito ter tido esse pressentimento”. Ela conta que viram dois casais vindo do outro lado da rua, “fazendo a maior algazarra entre eles”, disse. As duas não tinham muito o que fazer além de continuar andando.

“Na minha mente inocente, realmente pensei que no máximo eles passariam perto da gente para nos assustar e só… Só que não!”

Melissa narra que um ataque indiscriminado e violento aconteceu logo em seguida. “Vimos as duas garotas atravessar a rua correndo em nossa direção como flechas certeiras e quando me dei conta uma delas estava agarrada no pescoço de minha amiga”, relembra.

A brasileira disse que levou um soco no rosto e caiu no chão, sendo chutada enquanto a amiga era espancada por outra mulher. “Eu só conseguia gritar, gritar muito alto na esperança de que alguém das casas ao lado escutassem e aquele momento acabasse o antes possível.”

Segundo ela, o ataque durou cerca de “eternos 2 a 3 minutos”. “Carros começaram a passar e eles saíram correndo e, o pior, rindo. Para Melissa, o ataque não aconteceu porque queriam roubar, mas por pura diversão.

“Isso dá muita raiva e sensação de impotência. Assim que eles saíram, eu e minha amiga nos olhamos ainda no chão, um pouco distantes, perguntamos uma a outra se estava tudo bem e fomos nos abraçar. Por sorte e, na minha opinião, intervenção do Senhor, passou um táxi que prontamente parou e nós conseguimos entrar e ir para casa.”

Melissa disse que após o ataque sentiu-se impotente e insegura em Dublin. “Mas não deixarei de acreditar que, com a ajuda de todos, e se cobrarmos muito mais do governo e autoridades, as coisas melhorem. Sim sou uma otimista sonhadora que ainda ama a Irlanda.”

Ouça o E-Dublincast: Racismo na Irlanda, na Europa e no Mundo – E-Dublincast (Ep. 72)

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Rubinho Vitti

Jornalista de Piracicaba, SP, vive em Dublin desde outubro de 2017. Foi editor e repórter nas áreas de cultura e entretenimento. Também é músico, canceriano e apaixonado por arte e cultura pop.

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