Como nasceu o meu sonho de intercambista

Cada pessoa que se aventura rumo a um intercâmbio é movida por sonhos diferentes/ Créditos: Shutterstock

Tem sonhos que praticamente já nascem com a gente e que nos acompanham desde a infância. Por outro lado, existem alguns que surgem nos nossos caminhos e que acabam se transformando praticamente numa grande missão. Quem se aventura a viver uma experiência de vida no exterior, sempre carrega na bagagem afetiva – a do coração – alguma razão especial. Mas qual ou quais os motivos que podem desencadear essa mudança?

Já achei que mudar de país começava na hora em que colocamos as roupas na mala… ou talvez tenha acreditado que começava na hora em que entramos no avião ou passamos pela imigração

Há quem viaje após o fim de um relacionamento, uma decepção amorosa, atraído por novas perspectivas profissionais ou por um curso de especialização. Ou ainda quem simplesmente cansou da rotina que levava e pensa em dar uma reviravolta no próprio destino. Independente do fator desencadeador, o importante é que o intercambista nunca mais será o mesmo após essa experiência.

Segundo o psicólogo Caio Granero, “toda generalização é injusta, pois vivemos em um mundo plural demais, porém existem alguns pontos de convergência entre as mais inúmeras razões que contribuem para alguém buscar o intercâmbio”. Ele aponta o desejo de mudança como um deles, que pode ser a mudança de ambiente, de ciclo social (aqui pode estar e envolvido o desejo de novos amigos, libertação da família ou até uma tentativa de zerar um relacionamento que não deu certo). Há também mudança da expectativa do futuro (o inglês trazendo novas possibilidades na volta ao país), e principalmente, a interior, que se dá a partir da aquisição de conhecimento de uma nova cultura, das viagens, da vida compartilhada, do resgate da autonomia, dentre outros.

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O E-Dublin conta, hoje, a história de três intercambistas com realidades e motivações totalmente diferentes, mas que não tiveram medo de arriscar em busca do sonho de vivenciar novas culturas. Caminhar rumo ao desconhecido exige muito mais do que a gente pode imaginar.

Sonho que nasceu de uma frustração

Thiago nos Howth Cliffs. “Emoção por viver uma experiência totalmente inusitada, que nasceu após uma decepção”. Arquivo pessoal.

O paulista Thiago Pereira, 26 anos,decidiu vir para Dublin após uma decepção por não ter sido selecionado em numa entrevista de emprego no Brasil para uma multinacional americana. “Passei por sete etapas diferentes da entrevista. A última e decisiva era uma entrevista em inglês, mas, infelizmente, eu não fui selecionado“. A frustração dele foi tanta que, em dez dias, decidiu radicalizar: comprou um curso de intercâmbio de seis meses para Dublin. “Foi o melhor custo/benefício que achei, porque o país me dava o direito de trabalhar, estudar e ainda tinha a oportunidade de viajar por toda Europa por preços acessíveis”.

Prestes a terminar o intercâmbio e retornar ao Brasil, ele se diz realizado pela experiência. Fez novos amigos, conheceu diferentes lugares, trabalhou em áreas totalmente opostas à sua formação, mas que lhe trouxeram aprendizado, e ainda fará uma Euro Trip antes de retornar para casa. “O intercâmbio nasceu de uma necessidade e acabou sendo uma ótima experiência”.

Sair da rotina e viver novas experiências

No Brasil, Polly Pacheco era funcionária pública em Vitória, no Espírito Santo. Estabilizada no emprego há quase 6 anos, ela estava cansada do mesmo trabalho e sentia falta de novos desafios. “Quando eu imaginava como estaria minha vida dali cinco anos, me batia uma aflição só de pensar em estar no mesmo lugar e fazendo a mesma coisa. Isso me deixava angustiada, mas ao mesmo tempo, eu ficava insegura de arriscar, porque se não desse certo eu me arrependeria. Então eu estava literalmente presa”.

Polly tem curtido cada momento de sua nova vida na Irlanda. Arquivo pessoal.

Polly confessa que sempre gostou de viajar e que aproveitava as férias para conhecer o Brasil, além de também fazer parte do CouchSurfing. “Ouvia muitas histórias de pessoas que largavam tudo e decidiam viajar pelo mundo. Isso me motivou a começar minhas pesquisas”.

E foi assim que surgiu a Irlanda no seu caminho. Porém, a poucos meses de embarcar para a Europa, a escola que tinha contratado o seu curso de inglês fechou as portas. Logo, bateu a insegurança e ela acabou adiando os planos. Nesse meio tempo, descobriu, por meio de um tio, que ele havia começado a mexer com os papeis da cidadania italiana. “Cancelei a viagem e decidi ir para Dublin somente após sair a minha documentação”. Então, foi antes para a Itália, onde ficou dois meses e meio. Quando desembarcou na Irlanda, Polly já tinha o tão sonhado passaporte.

Barreiras que aparecem no intercâmbio

Já em Dublin, começou a estudar numa escola que haviam indicado como segunda opção e conseguiu um trabalho full time como customer service em português. Porém, novamente teve problemas com sua “nova escola”, que também fechou as portas, em meio ao turbilhão que acontecia na época.

“Alguns estudantes até iriam entrar na justiça do Brasil, mas como eu só teria mais dois meses de aula, desisti e fui fazer aula particular. A empresa que eu estava trabalhando, depois de um ano e três meses demitiu todos os funcionários”.

Para continuar na Irlanda, a opção encontrada foi recorrer à ajuda do governo. Atualmente, ela recebe o benefício integral e optou em melhorar o inglês e investir na sua área. Para quem é beneficiário, o governo, além de ajuda financeira, ainda oferece diversos cursos gratuitos e estágios.

Sonho de viver tudo de novo

Jaqueline saiu de Salvador para se apaixonar por Dublin. Arquivo pessoal.

Para a consultora comercial Jaqueline Salvador, de 35 anos, a experiência em Dublin pode ser considerada como uma montanha russa, tamanha a complexidade de sentimentos despertados durante sua permanência na Irlanda. Da saudade de casa, do calor de Salvador, das músicas, do ritmo e da comida baiana, às novas amizades, ao novo estilo e qualidade de vida e à hospitalidade irlandesa, cultura e segurança da cidade. Ela conta que chegou uma hora em sua vida que sentiu necessidade de buscar coisas diferentes. “Não é preciso muito para ser feliz. Só voltei ao Brasil por acreditar que, naquele ano (2010), seria o momento certo para retornar, por causa do bom momento financeiro que o país atravessava e por causa da crise irlandesa, mas acabei me arrependendo dessa decisão”.

No total, Jaqueline ficou dois anos em Dublin e diz que seu maior erro, talvez, tenha sido o fato de ter ficado direto sem retornar de férias ao Brasil. Hoje, após quase seis anos, ela já traça planos para se mudar novamente para a Irlanda. “Meu coração pulsa só de pensar. A Irlanda foi o lugar onde descobri que não precisamos de muito para sermos felizes. Muitas vezes, a simplicidade significa felicidade”.

Revisado por Tarcísio Junior
Imagens via Shutterstock
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Andre Luis Cia

Jornalista com pós-graduação em Roteiro para TV e Cinema, é autor do livro Desejo de viver, que conta a história de luta, superação e de amor à vida de Eliete Gandolfi Cia, sua mãe, falecida em 2015. Profissional com 18 anos de experiência na área de comunicação, incluindo a idealização, produção e escrita de duas séries de jornalismo internacional: sonho americano e sonho italiano, e atuação em diferentes veículos de mídia do Brasil, como redações de jornais impressos, assessorias de imprensa e TV, dentre outros.

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