Cabeleireiro brasileiro celebra sucesso e liberdade na Irlanda

Ser negro, gay e imigrante não foi motivo de impedimento para Marco Dias, 35, conquistar o sucesso na Irlanda. Muito pelo contrário. Com mais de dez anos de muito trabalho e determinação vivendo em Dublin, o cabeleireiro conseguiu ser dono de seu próprio espaço e hoje celebra sua vida com liberdade e orgulho, sem medo de ser feliz.

Foi justamente por sua luta e coragem que Dias recebeu destaque na imprensa irlandesa. Ele já foi convidado pela rádio RTE e também participou de um ensaio fotográfico para a revista GCN, voltada ao universo LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais e Transgêneros).

Gaúcho de Porto Alegre, Marco Dias vive há mais de dez anos em Dublin. Foto: Juliana Scodeler

Primeira impressão

Gaúcho de Porto Alegre, Dias sempre teve vontade de morar no exterior, sonho que se concretizou em 2007, após a recomendação de uma empresa de intercâmbio brasileira.

Chegando à Ilha, sua primeira impressão foi de estar em um ambiente “medieval”. “Os prédios, a arquitetura… eu sentia a história de Dublin no ar”, relata.

Da cozinha para as tesouras

Cabeleireiro há 15 anos, Dias começou trabalhando em Dublin como kitchen porter (ajudante de cozinha) em uma cantina localizada dentro de uma empresa multinacional. Porém, a vontade de seguir seu dom foi maior e, com persistência, conseguiu arranjar uma forma de continuar trabalhando como hairstylist, indo de casa em casa para cortar os cabelos das pessoas. O próximo passo foi ser contratado pelo primeiro salão brasileiro em Dublin, onde adquiriu experiência também com gerenciamento.

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Acreditando em si

“É muito importante não esquecer quem somos e o que fazíamos no Brasil quando chegamos aqui”, ressalta Dias. Para ele, o fato de não dominar o idioma, muitas vezes, faz com que as pessoas se desacreditem. Ele destaca que os profissionais precisam fazer uma pesquisa de campo e entender como funciona cada indústria em Dublin e não ter medo de tentar. “E o principal: seguir seu instinto.”

Pensando “fora da caixinha”

E foi por agir, questionar e seguir em frente que Dias conseguiu, na Irlanda, um mérito louvável. Fundou sua própria marca, The Studio, criada em 2012, na qual assina a direção criativa e gerencia seis funcionários. “São dias longos de trabalho, noites curtas e priorização de tempo para que cada dia eu alcance mais meus objetivos”.

The Studio foi a marca criada por Dias, onde ele gerencia seis funcionários e atua como diretor criativo. Foto: Divulgação

Autoaceitação e liberdade

A sexualidade de Marco Dias nunca foi um problema para ele, principalmente em um país que ele considera mais aberto. “Ser imigrante, negro e gay tem seu respeito aqui em Dublin. Nunca fui olhado com certa admiração no Brasil, como muitas pessoas me olham aqui. A curiosidade e admiração das pessoas me ajudaram muito a entender melhor meu espaço e minha existência”, diz.

Nu na capa da revista

Capa da revista GCN, edição janeiro de 2017

Por sua história de coragem, Dias foi convidado para se juntar a outros exemplos de liberdade na capa da revista GCN. A publicação apresentou uma reportagem com um ensaio fotográfico completamente nu. A ideia foi mostrar pessoas felizes com seus corpos e suas vidas.

“Nunca nos olhamos dessa forma, principalmente pelados, mas senti que estou fazendo minha parte na sociedade, compartilhando a mensagem de autenticidade, identidade e amor próprio. Sentimentos que, por muitos anos no Brasil, não senti, pelo fato de nossa sociedade ser tão julgadora.”

Segurança e aceitação LGBT

Apesar de ser aceito pela família no Brasil, o país nunca foi para Dias o mais seguro para se viver sendo homossexual. Na Irlanda, ele se sente mais aberto e, principalmente, com mais segurança. “Em algumas partes do Brasil, ainda vivemos no medo. Agressões verbais e físicas acontecem todos os dias. A realidade aqui é muito diferente. As pessoas se preocupam e/ou demonstram menos suas opiniões pessoais, preconceito e ódio”.

Mudança de cenário

Em mais de dez anos de Irlanda, Dias também acompanhou o cenário LGBTQ evoluir. Para ele, houve aumento dos direitos igualitários com a aprovação e reconhecimento do casamento entre pessoas do mesmo sexo, em 2015. “Ser gay em Dublin não é ser visto como uma grande diferença, as coisas têm mudado para melhor, cada vez mais.”

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Rubinho Vitti

Jornalista de Piracicaba, SP, vive em Dublin desde outubro de 2017. Foi editor e repórter nas áreas de cultura e entretenimento. Também é músico, canceriano e apaixonado por arte e cultura pop.

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