Hand shade behind a white sheet of anonymous person. Concept about mental health and illness, isolation, anxiety, stress, imprisonment.
A Irlanda mudou. Não por causa da crise na habitação, inflação ou desemprego (hoje em torno de 74,7 % da população empregada), mas por uma epidemia de desinformação que quer responsabilizar o imigrante por todos os males do país.
Nesta semana, viralizou o vídeo do ataque a um imigrante indiano na Parkhill Road, no subúrbio de Tallaght, Dublin. O homem, de aproximadamente 40 anos, foi cercado, espancado, parcialmente despido e deixado ensanguentado por um grupo de dezenas de adolescentes e alguns adultos no sábado, 19 de julho, por volta das 18h.
A polícia iniciou investigação por crime de ódio, suspeitando de um padrão de ataques xenófobos na região.
A vítima foi socorrida por uma moradora que a salvou do linchamento coletivo e registrou parte do que viu; o vídeo foi divulgado pelo deputado Paul Murphy (People Before Profit).
Segundo a Garda, a polícia irlandesa, não há confirmação ou evidência de que algum tipo de crime foi cometido pelo indiano, vítima do espancamento em Dublin. Foto: Envato
Os agressores acusaram falsamente o homem de comportamento inapropriado com crianças — boato compartilhado, segundo as investigações, por perfis ligados à extrema-direita e grupos anti-imigração. A Garda (polícia irlandesa) negou qualquer evidência que apoie tais acusações.
Alguns dos envolvidos já foram associados a outros ataques não provocados contra estrangeiros em Tallaght.
A voluntária Jennifer Murray, que socorreu o homem, descreveu uma cena caótica: “havia uns 30 adolescentes e adultos; ele implorava para salvar”. Ele foi golpeado no rosto, cabeça e corpo, teve cabeça pressionada contra um poste de iluminação três vezes, e calças, sapato e carteira foram roubados.
Depois de ser atendido no Hospital Universitário de Tallaght, ele recebeu alta na manhã de domingo.
Embaixada da Índia em Dublin acompanha o caso, presta apoio à vítima e à família, e solicita justiça pelas autoridades irlandesas.
O embaixador Akhilesh Mishra, em postagem no X, criticou a cobertura que tratou o ataque como “suposto”, afirmando: “Como um ataque ‘ALEGADO’ pode causar ferimentos tão horríveis e sangramentos?”.
Paul Murphy (People Before Profit), Seán Crowe (Sinn Féin) e Baby Pereppadan (Fine Gael) condenaram o ataque, pediram presença policial e expressaram a indignação comunitária.
Não é um caso isolado. Em outras cidades irlandesas, imigrantes foram atacados após vídeos falsos proliferarem nas redes sociais com acusações de estupro ou pedofilia, sobretudo por grupos de extrema-direita.
O Ministro da Justiça, Jim O’Callaghan, declarou que “cada vez mais se ouve pessoas culpando imigrantes por crimes. Mas as estatísticas mostram que a porcentagem de imigrantes presos é menor do que a proporção de imigrantes na sociedade”.
As tensões resultam em violência dirigida não a “imigrantes irregulares”, mas a imigrantes trabalhadores e documentados, antes que se perguntasse se eram culpados ou não. O ataque a um trabalhador indiano — antes mesmo de qualquer verificação documental — expõe um padrão onde o discurso anti‑imigrante traduz-se em agressões reais.
Dados atualizados revelam que cidadãos estrangeiros representam entre 14,6% e 15,8% da população carcerária na República da Irlanda. A estatística está em linha com a média europeia e muitos dos imigrantes estão encarcerados devido a pendências com a situação migratória no país e não por conta de atos violentos.
Segundo o relatório do World Prison Brief, a população prisional irlandesa era de 5.440 pessoas em 27 de junho de 2025, com 14,6% dos presos classificados como “não-cidadãos” — ou seja, estrangeiros sem cidadania irlandesa.
Já levantamento da Law Society of Ireland, publicado em julho, aponta que esse grupo representa 15,8% dos encarcerados no país, cifra compatível com a média da União Europeia.
“Os dados mostram que a Irlanda tem uma taxa relativamente estável de presos estrangeiros, inferior à de países como Bélgica (43%), Itália (32%) ou Espanha (29%),” destaca o relatório da Law Society.
Apesar de a maioria dos presos estrangeiros ter sido condenada por crimes comuns, há também um grupo de pessoas privadas de liberdade por razões puramente administrativas.
Em fevereiro de 2025, o Ministério da Justiça confirmou que 36 pessoas estavam detidas exclusivamente por questões migratórias, como ausência de documentação válida ou ordens de deportação.
O programa de transporte público irlandês, através do Student Leap Card, muito utilizado por intercambistas que…
O famoso bairro Temple Bar, no coração de Dublin, considerado um cartão-postal da capital da…
Uma das facilidades em viver na capital da Irlanda e outras cidades maiores do país…
O CEO da Ryanair, Michael O’Leary, confirmou nesta segunda-feira, 21 de julho, que os funcionários…
Duende, trevo, harpa... só por aí já dá para começar a elencar os símbolos da…
A comprovação financeira para estrangeiros intercambistas na Irlanda é um requisito importante para obter um…