Aposta Online: a regularização e o efeito negativo das ‘bets’ na Irlanda

O Brasil está enfrentando uma nova epidemia, mas desta vez, ela não está relacionada a vírus ou bactérias. Trata-se da proliferação das bets, as apostas online, que têm feito muitos brasileiros perderem dinheiro nos últimos meses.

Mas essa situação é exclusiva do Brasil? Um olhar para a Irlanda revela que o problema também se espalha por outros países, apesar de diferenças na regulamentação.

O Cenário na Irlanda

Diferente do Brasil, onde os cassinos físicos são proibidos, a Irlanda conta com uma longa tradição de legalização dos jogos de azar.

A Lei de Apostas no país remonta a 1854, e desde então, o cenário das apostas só se expandiu. Com a chegada da internet, em 2001 os jogos online começaram a crescer, e em 2003 a Irlanda começou a licenciar esse tipo de aposta no mercado local.

Mais recentemente, em 2022, o governo irlandês criou um órgão regulador para supervisionar todas as formas de jogos de azar, tanto presenciais quanto online.

A nova legislação trouxe algumas restrições importantes, como a proibição de anúncios publicitários de jogos de azar, visando proteger a população de exposição excessiva à publicidade desses serviços.

Influenciadores são proibidos de promover jogos de aposta nas redes sociais na Irlanda

A legislação também proíbe terminantemente a veiculação de qualquer propaganda de jogos de azar nas redes sociais — incluindo parcerias com influenciadores digitais — como forma de proteger o público, especialmente jovens e pessoas em situação de vulnerabilidade.

• Segundo as regras definidas pela nova lei, nenhum conteúdo promocional relacionado a apostas pode ser divulgado em plataformas como Instagram, TikTok, YouTube ou X (antigo Twitter).
• A medida afeta diretamente criadores de conteúdo, que estão impedidos de firmar contratos publicitários com empresas do setor de jogos de azar.
• Além do veto nas redes sociais, o país também instituiu uma proibição da exibição de anúncios de apostas entre 5h30 e 21h em meios de comunicação online e televisivos, para reduzir a exposição do público infantojuvenil a esse tipo de conteúdo.
• Incentivos promocionais como free bets, bônus de boas-vindas e programas VIP também foram banidos por serem considerados gatilhos para o vício.

A Autoridade de Padrões de Publicidade da Irlanda (ASAI) reforçou que todas as comunicações de marketing devem seguir as diretrizes de responsabilidade social, assegurando que a publicidade não seja enganosa nem glamurize o jogo como uma forma de resolver problemas financeiros ou alcançar status.

A Gravidade do Vício em Apostas

Apesar das tentativas de regulamentação, o problema das apostas na Irlanda é mais grave do que se imaginava. Um estudo de 2023, conduzido pelo Instituto de Pesquisa Econômica e Social da Irlanda, apontou que o vício em jogos de azar afeta cerca de 130 mil pessoas, o que representa um em cada 30 adultos no país.

Os dados são alarmantes: os viciados chegam a gastar mais de €1.000 por mês com apostas, e os números revelam que, anualmente, os irlandeses gastam cerca de €5,5 bilhões em jogos de azar.

Desse total, 47% dos gastos vêm de pessoas que experimentam múltiplos efeitos negativos, como dívidas excessivas e impactos no bem-estar mental e familiar.

Um dos casos mais chocantes reportados pela emissora RTÉ foi o de um homem que, ao longo de 20 anos, perdeu mais de €5 milhões em apostas. Ele chegou a dedicar 18 horas diárias a atividades relacionadas a jogos de azar, o que ilustra a gravidade do problema.

Subestimação do Problema?

Mesmo com pesquisas e regulamentações mais rigorosas, especialistas temem que a extensão real do vício em jogos de azar na Irlanda possa estar sendo subestimada.

Muitos acreditam que o número de pessoas enfrentando dificuldades financeiras e emocionais devido às apostas seja muito maior do que o estimado atualmente.

Se você ou alguém que você conhece sofre com o jogo compulsivo, procure ajuda. Organizações como o Gambling Care oferecem suporte gratuito e confidencial.