Easter Rising: a rebelião que ajudou na independência da Irlanda
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Em 1916, o feriado de Páscoa na Irlanda caiu no dia 24 de abril. A data, tradicionalmente celebrada entre famílias, teve um novo significado desde aquele dia para a história da Irlanda. Foi há mais de 100 anos que a Easter Rising (Revolta da Páscoa), uma rebelião dos irlandeses contra o domínio britânico, deixou seu legado e mudou completamente o pensamento do país sobre a importância de se tornar uma república livre e independente.
A história é relembrada anualmente no país, reunindo autoridades para celebrar personagens que são considerados heróis da nação.
Quer conhecer mais sobre o que aconteceu no Easter Rising? Continue lendo este artigo.
Irlanda no contexto da Primeira Guerra Mundial
Em 1914, o United Kingdom of Great Britain and Ireland, como o próprio nome diz, abrangia todos os países da Grã-Bretanha e a ilha da Irlanda como um reino só. Foi nesse contexto que a Primeira Guerra Mundial teve início, em agosto daquele ano.
A Inglaterra, junto à França e a Rússia, uniram-se contra a Alemanha e seus aliados em uma batalha que durou até 1918. Tanto líderes nacionalistas quanto sindicalistas da Irlanda apoiaram a guerra, e mais de 200 mil irlandeses, sendo católicos ou protestantes, serviram ao exército britânico.
O início da revolta na Irlanda
The Gaelic League (Liga Gaélica) foi fundada em 1893 com o objetivo de restabelecer a língua e a cultura irlandesas. Sua consequência política foi o surgimento, em 1905, do movimento Sinn Fein (em gaélico, “nós mesmos”), de Arthur Griffith.
Era uma organização que apoiava a retirada de membros irlandeses do Parlamento Britânico e a criação do Parlamento Irlandês. O movimento também queria a revogação do Act of Union (Ato de União) de 1800 — que unia o Reino da Grã-Bretanha e o Reino da Irlanda (United Kingdom of Great Britain and Ireland).
O apoio alemão na revolta irlandesa
Logo após o início da Primeira Guerra, o Conselho Supremo do The Irish Republican Brotherhood (IRB) já havia decidido organizar uma revolta antes do fim da guerra e obter ajuda da Alemanha, inimiga dos ingleses. Sir Roger Casement, integrante da Liga Gaélica, foi para a Alemanha e iniciou negociações com o governo e as forças armadas. Ele convenceu os alemães a apoiarem a independência, concordando em enviar armas e munições para os voluntários rebeldes.
O levante rebelde irlandês
O governo britânico soube das intenções de Casement de desembarcar armas na Irlanda e a ajuda alemã fracassou. Em 1916, o professor Eoin MacNeill, líder nominal do grupo rebelde, havia organizado uma festa de Páscoa, sem saber que a base da rebelião havia planejado iniciar suas ações bem ali. Quando descobriu, cancelou o evento.
Leia também: História da Irlanda — E-Dublincast
Apesar da ordem de MacNeill, alguns irlandeses decidiram seguir em frente. Entre eles, estavam Patrick Pearse, com os National Volunteers, e James Connolly, com o Citizens’ Army. Juntos, eles lideraram mais de mil homens. Além deles, uniram-se ao grupo The Hibernian Rifles, Fianna Éireann, Cumann na mBan e The Foresters.
Armados principalmente com espingardas, revólveres, pistolas semiautomáticas e granadas, os rebeldes começaram a tomar importantes prédios no centro de Dublin, às 11h de segunda-feira, 24 de abril de 1916.
Uma guerra no centro de Dublin
Um governo provisório foi montado na base dos rebeldes, o General Post Office (GPO), localizado na O’Connell Street (na época chamada Sackville St). Também foram tomados os prédios do Four Courts, Jacob’s Factory, Boland’s Bakery, South Dublin Union, St. Stephen’s Green e o College of Surgeons.
O plano dos rebeldes era manter uma área grande e oval, delimitada por dois canais ao sul e ao norte, com o rio Liffey atravessando o meio. Barricadas foram erguidas nas ruas para impedir o movimento do Exército Britânico.
A guerra de seis dias
Houve pouco conflito no primeiro dia, já que os britânicos demoraram a reagir e fracassaram em prever a rebelião. Eram apenas 400 soldados para enfrentar cerca de 1.000 insurgentes. No dia seguinte, uma força britânica de 4.500 homens com artilharia chegou para tentar impedir que a rebelião continuasse.
À medida que a semana avançou, os combates se tornaram intensos. Na sexta-feira, 28 de abril, os 1.600 rebeldes enfrentaram 18 a 20 mil soldados. O GPO foi totalmente isolado e sofreu um ataque feroz de artilharia, que devastou grande parte do centro de Dublin.
O resultado do Easter Rising
O levante de uma semana custou cerca de 1.500 vidas — principalmente civis — e deixou outras 2.000 pessoas feridas. O comandante-chefe britânico, Sir John Maxwell, levou dezesseis irlandeses à corte, que acabaram fuzilados. Patrick Pearse foi o primeiro a ser escolhido para execução, em 3 de maio de 1916.
A ação do Easter Rising em 1916 levou a Irlanda a ter um maior apoio popular à sua independência. Em dezembro de 1918, o partido republicano Sinn Féin obteve uma vitória esmagadora e em 21 de janeiro de 1919, formaram um governo separatista (Dáil Éireann) e declararam independência irlandesa.
A Guerra da Independência Irlandesa foi travada 1919 e 1921 entre o Exército Republicano Irlandês (IRA) e as forças britânicas. Em 1922, foi criado o Estado Livre Irlandês, após um cessar fogo entre Irlanda e a Grã-Bretanha. Mas esses são outros capítulos da história irlandesa.
Marcas da Revolta da Páscoa na Irlanda
Quem passa pelo GPO, na O’Connell Street, nos dias de hoje, se reparar bem, pode conseguir enxergar marcas de tiros no alto de suas pilastras. Também há muitos prédios ainda em pé ou locais que podem ser visitados para entender essa história, como Royal College of Surgeons, St. Stephen’s Green e The Four Courts Area.
O Garden of Remembrance, memorial erguido em Dublin, em 1966, no cinquentenário da Revolta da Páscoa, tem como objetivo lembrar todos os homens e mulheres irlandeses que lutaram em guerras que culminaram com a Independência da Irlanda.
Leia também: Cinco referendos importantes para a história da Irlanda
Uma ótima opção para entrar de cabeça nessa história é o “The 1916 Rebellion Walking Tour”, um dos muitos walking tours temáticos existentes em Dublin. O autor e historiador Lorcan Collins é o guia, que leva os turistas aos locais mais relevantes da Rebelião.
Para entender sobre a história de forma mais completa, acesse o site Easter1916. A RTÉ também tem um especial sobre o assunto, assim como o Irish Times e o Irish Central, todos fontes para a criação deste artigo.
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