Brasileiros assinam espetáculo LGBT em Londres
5 anos atrás
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Um espetáculo teatral que explora temáticas que passeiam pelo mundo LGBT, envolvendo desde o relacionamento sexual e amoroso em si até a política, inclusive os desdobramentos do atual governo brasileiro. Sex Between Men in the 21st Century será encenado nos dias 19 e 20 de maio, no Theatre503, em Londres, e tem em sua concepção três brasileiros: o dramaturgo Rogério Correa e os diretores Luis Benkard e Pedro de Senna.
Radicados na capital inglesa há alguns anos, Correa e Benkard falam sobre a abertura do teatro inglês a brasileiros, o movimento LGBT e, claro, sobre a política no Brasil.
Espetáculo reúne pequenas esquetes
Sex Between Men in the 21st Century é desenvolvida em cinco partes, dirigidas pelos brasileiros Luis Benkard e Pedro de Senna e o canadense Jack Paterson. Elas exploram a realidade das relações sexuais e emocionais contemporâneas entre homens e reflete sobre as recentes vitórias na luta pelos direitos LGBTTQ+, destacando que esse progresso não foi igualado em todo o mundo.
Entre os exemplos estão países como Brunei e Chechênia, que chocam o mundo matando homossexuais, a perseguição a gays na Rússia e o Brasil que, recentemente, elegeu um presidente abertamente homofóbico.
Para Correa, o formato de peças curtas ajuda a explorar vários aspectos de um tema e faz o espetáculo ser bastante dinâmico e variado. “Os temas das cinco peças curtas são: casamento igualitário, homofobia, sexo na internet e os campos de concentração para gays na Chechênia. A última peça é uma aula de história do sexo que ocorre no futuro, no século XXIII, cujo tema é a homossexualidade nos nossos dias. A professora descreve a homofobia do século XXI e cita, entre outros países, o país que se chamava Brasil e a homofobia que reinava nele, informando que era um dos locais que mais matava LGBTs no mundo”, explicou o dramaturgo.
Política dá o tom do espetáculo
O diretor Luis Benkard, que vive há 17 anos em Londres, afirmou que os textos de Rogério Correa são dinâmicos e altamente cênicos. Ele dirige a última cena sobre o futuro. “As referências políticas são marcantes no texto. Em Sex Class, eu uso um vídeo ridículo de apoiadores do atual presidente brasileiro que se autodeclaram robôs de Bolsonaro”, afirmou, exemplificando o tom político da peça. Ele afirmou pensar no figurino e cenário que, mesmo subliminarmente, são usados para enobrecer a luta da causa LGBT.
Movimento LGBT ganha espaço no teatro europeu
A temática LGBT é constante nas artes do Reino Unido e países como a Irlanda. Em Dublin, por exemplo, há o Dublin Gay Theatre Festival, que acontece anualmente com peças abordando o tema.
Para Correa, o teatro, por ser mais acessível e barato para o artista das artes dramáticas que a televisão e o cinema, é um espaço fundamental para a expressão de minorias e para a pesquisa de dramaturgia. “Podemos ousar mais no teatro, ele é mais livre. E, mesmo que seu alcance em número de espectadores seja menor, muitos dos que frequentam as plateias do teatro são formadores de opinião”, ressaltou.
Para ele, ocupar esse espaço é fundamental para a representatividade das minorias. “Aqui em Londres, o teatro LGBTTQ+ representa muito bem a sua comunidade. E foi e é muito importante para as nossas conquistas. Espetáculos teatrais de temática LGBTTQ+ são uma coisa comum e sempre presente no panorama teatral londrino.”
Experiência de dramaturgo mostra sucesso nas artes no exterior
Viver de arte em Londres sendo brasileiro é possível? A história de Correa mostra que sim. Aos 58 anos, 31 deles vivendo na capital inglesa, hoje ele pode se dizer inserido dentro do universo cultural londrino. “Eu decidi vir para Londres em 1987 para estudar Técnica de Alexander, um método que ensina como usar o corpo com menos tensão e que é muito usada para atores e cantores”, disse.
Porém, para sobreviver em um país estrangeiro sendo artista, fez quase de tudo: foi garçom, deu aulas de português, foi tradutor, trabalhou como assistente de produção, foi osteopata e fez e ainda faz locução e dublagem.
Ser artista no exterior: é preciso reiniciar
Para Benkard, espaço há para todos, mas é preciso reiniciar, ou seja, começar do zero. “Precisamos fazer novos contatos, entender como funciona o mercado etc. Existem aberturas para parcerias. É preciso ir buscá-las”, afirmou ele, que saiu do Brasil após se formar em interpretação, direção e encenação teatral e se especializar em teatro contemporâneo.
Segundo Correa, embora o Reino Unido seja uma sociedade multicultural, existe uma desvantagem de ser brasileiro “por não haver os contatos e os códigos para nos inserirmos aqui e em outros países. Por outro lado, e isso é a minha experiência, acho que o que temos a fazer é inverter a situação e tornarmos essa desvantagem de sermos de outra cultura em vantagem. Temos algo novo e diferente a oferecer. A nossa arte, nossa tradição cultural é diferente e única”, ressaltou.
SERVIÇO
Sex Between Men in the 21st Century
Texto: Rogério Correa
Diretores: Luis Benkard, Pedro de Senna e Jack Paterson
Elenco: Ivani Ca, Bryan Carvalho, Clóvis Cunha, Richard de Lisle, Pedro de Senna e William McGeough
Diretor de Movimento: Isolte Avila
Designer Visual: Eloise Carles
Fotógrafo e modelo: Gabriel Batenburg
Datas e Horários: domingo, 19 e 20 de maio de 2019, 19:30
Local: Teatro503 (503 Battersea Park Road, Londres)
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