Muita resiliência e superação: é o que nos ensina a brasileira Thames Tavares
5 anos atrás
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Sexta-feira, 1º de junho de 2018, foi o primeiro dia do resto da vida de Thames Tavares em Dublin. A brasileira voltava do trabalho pedalando rumo à academia de ginástica, quando foi atingida por um carro em alta velocidade.
Thames sofreu múltiplas fraturas, teve as duas pernas e o braço fraturados, a pélvis e uma vértebra fraturada, além de vários órgãos lesionados, ocasionando uma hemorragia interna. Em estado gravíssimo, foi levada ao hospital, onde permaneceu por 364 dias, 18 deles em coma.
Pouco mais de um ano após o acidente, Thames conversou com o E-Dublin sobre sua difícil recuperação. Ela narrou os episódios mais dramáticos, mas também como conseguiu atingir a resiliência com ajuda dos familiares, dos amigos e, até, de desconhecidos da comunidade brasileira na Irlanda que, com carinho e solidariedade, auxiliaram a brasileira para encontrar forças a fim de continuar sua luta.
Coma induzido e inúmeras cirurgias
Thames é de Maués, no Amazonas, e mora na Irlanda há três anos. Nesse período, conheceu o irlandês Dean Pepper, com quem casou dois meses antes de o acidente ocorrer. Aliás, justamente no dia do aniversário do marido, 1º de junho, o acidente aconteceu.
Thames foi internada e ficou em coma induzido durante 18 dias. Nesse período, passou por inúmeras cirurgias, principalmente na perna esquerda, que foi a mais lesionada. “Cogitaram várias vezes em tirar minha perna enquanto eu estava em coma. Mas eu sempre conseguia melhorar um pouco mais. Devagar, a respiração começou a ficar melhor, aos poucos fui melhorando. Então decidiram deixá-la”, disse Thames.
O corpo de Thames teve que lidar com diversas infecções por conta de muitos ossos quebrados. “Depois de todas as cirurgias que fiz em coma, ainda fiz outras quando acordei. No joelho, no braço, na clavícula… Tinha que esperar, dar tempo ao corpo para ele voltar a ter uma função.”
A perna esquerda ficou imóvel por 4 meses, quando ela precisou de metal e gesso para ficar imobilizada. Outras partes do corpo também. “Aos poucos eu ia mexendo o corpo, tendo alguma melhora. A mão, o pé… Tinha que ser tudo muito delicado comigo, pois qualquer coisa poderia me quebrar.”
“Tive que reaprender tudo”
E não foram apenas os ossos que precisaram de tempo para se recuperar. “Eu perdi todos os meus movimentos. Tive que reaprender a falar, a comer, a tudo. Tentava conversar quando comecei a falar novamente, mas era muito esforço para mim. É como se fosse um bebê. E ainda era pior porque eu tinha medo de tudo”, disse. Ela usava um colar cervical que ia do pescoço até o estômago. “Como eu tinha quebrado muitos ossos, eu tinha que me sustentar. Não tirava o colar de jeito nenhum. E era imenso e me apertava.”
No hospital, Thames fazia fisioterapia para conseguir algum movimento. “Meu marido também me ajudava com os exercícios e, então, mantinha sempre meu corpo trabalhando para não perder algo que eles me ensinavam, alguma técnica para fazer na cama.”
Pensamento positivo ajudou na recuperação
Passo a passo, Thames está se recuperando e se sentindo cada vez mais forte. “No dia em que tirei o colar cervical, eu chorei muito. Parecia que aquilo seria infinito. Para mim, foi um avanço, pois eu já podia sustentar meu pescoço”, comemora. Ela ainda relatou que foi aprendendo a segurar seu corpo aos poucos e ter mais equilíbrio a cada dia. “Tudo era um avanço.”
Thames também só se alimentava por vitaminas nas veias e sondas pelo nariz. “Eu tinha fome e vontade de tomar água e não podia. Aos poucos começaram a me dar uma comida pastosa. Aquilo já era muita felicidade.”
A positividade da brasileira ajudou a conseguir se recuperar. “Mantinha minha cabeça sempre pensando que eu ia conseguir e tudo ia dar certo. Tive esse momento triste, cheguei quase a ficar um pouco depressiva, mas tentava me manter sempre positiva. Ria para todo mundo”, relembra.
Auxílio da comunidade brasileira
A comunidade brasileira se organizou para fazer uma “vaquinha” online e arrecadar fundos para trazer a mãe e a irmã de Thames para Dublin e visitar a filha. A ideia era arrecadar 10 mil euros, mas as arrecadações superaram os 11 mil.
O montante conseguiu bancar a estadia da mãe por três meses. “Eu agradeço toda a comunidade brasileira que me ajudou. Foi realmente uma grande família para mim, tanto pelo lado financeiro quanto pelo espiritual”, relatou Thames.
Ela relatou o esforço de amigos, mas também de pessoas que nunca tinha visto na vida. “Meninas me mandavam mensagens pedindo para me conhecer, fazer uma visita. Uma fazia uma canja, outra levava um bolo. Comecei a ver que era um incentivo de verdade, e isso me mantinha forte. Eu fui uma pessoa muito abençoada porque as pessoas rezaram muito por mim.”
“Ano de alegrias e tristezas”
“Tanto foi um ano de alegria como de tristeza”, resume Thames. Ela sabe que, por pior que o acidente tenha sido, ela conseguiu superar. “Eu queria ter só caído e ralado o joelho ou só quebrado o braço, mas não foi assim”, disse. Para ela, o marido e a família dele foram o fermento para que ela tivesse força de vontade para se recuperar.
“Temos nossos amigos, mas eles trabalham, têm seus compromissos, não podem parar a vida deles para ficar junto com a gente. Mas meu marido estava todos os dias no hospital. Então, me dava força, porque, por mais que os médicos façam tudo para o corpo, é preciso também aquela companhia.”
Thames passou 364 dias no Tallaght Hospital. Desde o começo do mês de junho, ela se encontra no The National Rehabilitation Hospital, hospital de reabilitação localizado em Dun Laoghaire. “Eles estão me ajudando, tenho mais esforço. Faço fisioterapia, com os movimentos do corpo, e terapia ocupacional, para fazer coisas que vou fazer em casa, como me vestir, cozinhar…”, disse Thames.
Thames sabe que o processo é longo e que tudo vai acontecendo passo a passo. “Meu maior desejo é voltar a andar.”
Quem quiser auxiliar Thames, a “vaquinha online” ainda está disponível para doações.
O E-Dublin publicou oito dicas de como guiar de forma segura em Dublin.
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